Com o tema “Brasil de volta ao mapa da fome”, aconteceu no final de abril, um debate muito enriquecedor sobre a violação do direito humano à alimentação adequada, pelo Estado Brasileiro.
O convidado foi Patrus Ananias, Ex. Ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Deputado Federal e professor da PUC-MG, e teve como mediadora Ana Petronetto, da Coordenação da Campanha Paz e Pão. A live foi transmitida ao vivo pelo Canal da Arquidiocese no Youtube.
O objetivo principal do debate foi conhecer o que está acontecendo no Brasil em relação à brutal desigualdade social, conhecer os fatores históricos e culturais em relação à pobreza no país, deixando claro, qual o papel social da igreja e do cristão neste contexto e obter elementos para ajudar a definir estratégias e criar ações de combate à fome.
O convidado, Patrus Ananias, começou sua fala deixando claro que “a fome é inaceitável em qualquer lugar do mundo. Vivemos em um país continental e belíssimo, com condições climáticas favoráveis, temos a maior reserva hídrica do mundo e somos o 2º maior produtor de grãos. Temos condições de produzir alimento em abundância”. Logo depois desta importante declaração, fez uma reflexão sobre a perversidade histórica das injustiças e da desigualdade social que nos acompanha desde o Brasil colonial.
Entre os fatores apontados estão os quase 4 séculos de escravidão. Depois da abolição, nossos escravos foram jogados na rua da amargura. E nenhuma política pública foi criada para integrá-los na sociedade. Outra questão marcante é o coronelismo e a concentração de terras nas mãos de poucos. Já nos anos de 1920, começa o êxodo rural, onde os retirantes empobrecidos migram do nordeste para fugir da seca.
A partir dos anos 30, vários autores brasileiros, como: Graciliano Ramos, Raquel de Queiroz, Jorge Amado, José Luís do Rêgo, entre outros, começaram a colocar a fome como tema principal de suas obras literárias. Já durante a ditadura houve muito retrocesso e o povo continuou sem o direito fundamental e sagrado que é “o pão nosso de cada dia”.
A discussão sobre a fome volta a ficar em destaque na década de 90 com o Betinho, sociólogo Herbert Souza, que tornou símbolo de cidadania no Brasil ao liderar a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, conhecida popularmente como a campanha contra a fome. Betinho mobilizou a sociedade brasileira para enfrentar a pobreza e as desigualdades, deixando um exemplo de solidariedade e de luta pela transformação social.
Dentro da Igreja Católica, iniciou-se também o debate sobre o tema da pobreza e desigualdade social. Este movimento em favor dos direitos humanos, cresceu através do trabalho incansável de alguns bispos como, Dom Helder Câmara, Dom Paulo Evaristo Arns e Dom Pedro Casaldáliga.
A partir de 2002, foram criados vários programas ligados à segurança alimentar como: bolsa família, cozinhas comunitárias, restaurantes populares e políticas de apoio à agricultura familiar. Tudo isso contribuiu muito para tirar o Brasil do mapa da fome.
E infelizmente a partir de 2016, essas políticas públicas ligadas à segurança alimentar foram sendo sucateadas, pois cresceu a interesse do grande capital nacional e internacional de se apropriar desses recursos. Além de sofrermos pressão do mercado milionário dos agrotóxicos.
Depois dessa bela explanação, foram feitas perguntas e abriu-se o debate. Ao final da discussão, tivemos certeza que temos um grande desafio pela frente para reverter a situação do país e ajudar a tirar 20 milhões de pessoas do mapa da fome.
Na Arquidiocese de Vitória, o braço forte para ajudar nesse Caminhada é a Campanha Paz e Pão, que trabalha com três eixos prioritários: as ações emergências, a incidência política e a formação e espiritualidade. Esses eixos se articulam, se integram e se fortalecem mutuamente para definir as ações estratégicas de combate à fome. Dando uma resposta imediata ao flagelo de sofrimento que atinge hoje as comunidades periféricas, principalmente com a chegada da Pandemia, que aumentou muito a calamidade dos empobrecidos. Hoje a Campanha consegue distribuir 3.000 cestas básicas por mês, e o desafio é grande, pois conta com 14.000 famílias cadastradas para receber ajuda.
O Evento, “Brasil de volta ao mapa da fome”, foi articulado pelo Vicariato para Ação Social, Política e Ecumênica, da Arquidiocese de Vitória. Sob a coordenação do Pe. Kelder Brandão. Esse organismo, foi criado com o objetivo de trazer as questões sociais para dentro da Igreja e levar a Igreja para fora de seus muros. Fazendo um trabalho missionário, levando uma experiência de um Deus Vivo, trabalhando para reduzir a pobreza e renovando a esperança de um mundo mais solidário e fraterno.